

Caipirinha suspensa: casos de intoxicação por metanol geram medo no Brasil
Dos bares chiques de São Paulo às praias do Rio de Janeiro, os consumidores estão em alerta por uma onda de intoxicações por bebidas alcoólicas adulteradas que podem ser fatais.
Na sexta-feira (3), o Ministério da Saúde confirmou uma morte por ingestão de metanol, um álcool tóxico que não deve ser usado em bebidas destiladas, enquanto outros 11 óbitos estão em análise.
As autoridades já contabilizam 11 intoxicações confirmadas e outras 102 em investigação.
Nove em cada dez casos foram detectados no estado de São Paulo, embora também tenha havido registros em outros estados e na capital, Brasília.
A imprensa local reportou vítimas hospitalizadas em coma e o caso de uma mulher que perdeu a visão após beber três drinques com vodca em um bar de São Paulo.
O medo aumenta entre os clientes, que evitam destilados com vodca, gim, whisky ou cachaça, base da popular caipirinha.
"Com certeza nesse final de semana não vou sair para beber álcool, o negócio está preocupante", disse à AFP Rafael Martínez, arquiteto de 30 anos, enquanto almoçava nos Jardins, bairro nobre da capital paulistana, onde um bar já foi fechado.
"Por enquanto prefiro ficar no refrigerante ou no máximo cerveja, que falaram que é mais difícil para adulterar", acrescentou.
Na noite de sexta-feira, em uma rua de bares tradicionais no bairro boêmio da Vila Mariana, em São Paulo, o clima era sombrio e os estabelecimentos estavam quase vazios.
- Em busca de antídotos -
A origem do álcool adulterado é desconhecida e a Polícia Federal informou, esta semana, que estava investigando um possível vínculo com o crime organizado.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recomendou que as pessoas evitem consumir bebidas destiladas.
O governo brasileiro criou uma sala de crise para enfrentar a situação e busca se abastecer com um antídoto, o etanol farmacêutico.
As autoridades também estão em busca de doadores e fornecedores internacionais de fomepizol, outro antídoto não disponível no Brasil.
O metanol é um produto químico industrial altamente tóxico para o organismo, cuja ingestão causa danos ao fígado e ao sistema nervoso.
Nikolaos Loukopoulos, dono do restaurante grego Athenas, na icônica rua Augusta, também na capital paulistana, decidiu parar de vender drinques por pelo menos uma semana.
"Ontem à noite ninguém comprou drinques", disse à AFP na sexta-feira. "Com uma cervejinha nesse calor ficamos bem, para que arriscar?", acrescentou.
Segundo Loukopoulos, os bares e restaurantes costumam comprar as bebidas de distribuidoras, que por sua vez as adquirem dos fabricantes.
"Eu compro das mesmas distribuidoras há vinte anos, mas quem me garante?", lamentou.
- Inodoro e insípido -
Embora no Rio ainda não tenha sido registrado nenhum caso, vários restaurantes publicaram comunicados nas redes sociais assegurando que seus produtos alcoólicos são seguros.
Thaís Flores, uma cirurgiã dentista de 28 anos, comprou a contragosto uma cerveja em um dos quiosques que vendem bebidas na praia de Ipanema.
"Não gosto tanto de cerveja, mas por conta das últimas notícias, então está sendo a nossa preferência", disse.
Sua amiga carioca, Raquel Marques, de 29 anos, ao contrário, optou por uma caipivodca. "Medo tenho, mas a gente arriscou. O cara falou que comprou no mercado", afirmou.
O dono do quiosque, Fábio de Souza, contou que "quatro pessoas já perguntaram sobre o metanol".
Preocupado com seu negócio durante o fim de semana, este comerciante de 44 anos disse que permite aos clientes provarem o destilado puro porque "aí ficam mais seguros".
Mas nem ele, nem seus clientes sabiam que o metanol é inodoro e insípido.
L.Olinger--LiLuX