

Quatro militares retidos em protestos indígenas são libertados no Equador
Quatro dos 17 militares retidos no domingo em meio a protestos de indígenas contra o governo do Equador foram libertados, informou o Exército nesta terça-feira (30).
Desde 22 de setembro, indígenas bloqueiam estradas contra um decreto do presidente Daniel Noboa que eliminou o subsídio ao diesel e elevou o preço do combustível em 56%, o que encarece o custo de vida em áreas agrícolas.
O principal foco dos protestos está na província andina de Imbabura (norte), onde choques violentos entre manifestantes e forças públicas deixaram um indígena morto no domingo, além de 12 soldados feridos e outros 17 retidos, segundo autoridades.
Sem dar detalhes, o Exército afirmou a jornalistas que quatro soldados foram liberados. Nem as autoridades nem as organizações indígenas informaram o paradeiro dos demais.
"Os órgãos competentes realizam os procedimentos legais, exames médicos (nos agentes) e revista do material bélico" entregue junto com os quatro "liberados", acrescentou o Exército.
- "Não praticamos extorsão" -
Na segunda-feira, o responsável pela maior organização indígena do Equador (Conaie), Marlon Vargas, se distanciou da retenção dos 17 agentes, que segundo o governo foram "sequestrados".
"Não somos povos que sequestram. Não praticamos extorsão", expressou o líder em coletiva de imprensa em Quito. Ele garantiu que a acusação de sequestro é um "pretexto" do Executivo para "entrar no território (indígena), assassinar, fuzilar".
Estradas continuavam bloqueadas nesta terça-feira em Imbabura e em outras quatro províncias andinas como Pichincha, cuja capital é Quito, segundo o serviço estatal de segurança ECU911.
O Ministério Público investiga a morte de Efraín Fuerez, de 46 anos, por disparos nos protestos, em um caso denunciado pelos povos originários como responsabilidade dos militares.
O escritório da ONU para os direitos humanos na América do Sul (ACNUDH) pediu na segunda-feira um "diálogo urgente" entre líderes das manifestações e o Executivo do Equador.
"O Estado deve investigar as responsabilidades por esta morte de forma exaustiva e transparente, garantindo o acesso à Justiça para sua família e comunidade", disse seu representante, Jan Jarab, em um comunicado.
"As forças militares não são treinadas para enfrentar situações de conflitos sociais ou segurança pública. Sua atual mobilização em tarefas deste tipo representa um risco real de violações dos direitos humanos", acrescentou.
- Máfias infiltradas -
A Conaie convocou a "greve nacional" por tempo indeterminado em rejeição ao decreto presidencial que aumentou o preço do diesel de 1,80 para 2,80 dólares por galão (9,58 para 14,90 reais).
O governo de Noboa, no poder desde novembro de 2023, denuncia "atos terroristas" nas manifestações e ameaça seus responsáveis com penas de até 30 anos de prisão.
Os protestos também já resultaram em 63 manifestantes presos, 48 feridos e seis desaparecidos, segundo a Aliança pelos Direitos Humanos do Equador.
Pelo menos doze presos na localidade indígena de Otavalo (em Imbabura) são processados por terrorismo.
Noboa indica que há membros de organizações criminosas como a Tren de Aragua entre os manifestantes, sem detalhar sua denúncia.
O aumento dos preços dos combustíveis levou a mobilizações indígenas violentas durante os governos dos presidentes Lenín Moreno e Guillermo Lasso em 2019 e 2022.
A Conaie liderou protestos sociais que derrubaram três presidentes entre 1997 e 2005.
C.Rastoder--LiLuX